quarta-feira, 23 de abril de 2008

Preocupações.

Preocupações.

Com os olhos a darem sinal do cansaço que o meu corpo sente, não desisto da minha vigília solitária. Tenho os olhos raiados de sangue das noites sem conta as quais já não durmo. Angústias mil. Um olhar antes vivo, agora mais morto, quase em jeito de desafio ao próprio espectro do ceifador que retira o último sopro dos pulmões de cada um. Imagens de mil vidas passam pela minha visão como se estivem mesmo diante de mim. Uma sub-realidade provocada pelos sofrimentos que um mero mortal tem de suportar.
Um breve deslumbre no espelho que está a minha frente revela uns olhos enterrados nas órbitas, secos, porque toda a humidade neles existentes já foi libertada em forma de lágrimas que mancham o meu rosto. Sinais exteriores de uma tempestade interior.
O que provoca está tempestade? Não tenho resposta para está pergunta. Isso já começa a ser uma situação normal, aquela em que não sei porque insisto em deixar que a dor tome conta do meu ser. Uma pessoa como eu pode passar o tempo a olhar para o seu interior e não saber ao certo aquilo que realmente está a acontecer. Sabe apenas que algo não está completamente correcto. O que será? As dores provocadas pelas preocupações do dia-a-dia podem ser um dos pontos de origem desta tortura. Mas não. Para mim essas preocupações estão bem definidas, por esse motivo sei que não vale a pena estar a perder sono sobre esses pequenos detalhes. Pequenas coisas que podem mágoar quem não está a contar com eles. Mas para quem está, nada diz. De certeza que não é aquilo que eu sei que está a acontecer ou aquilo que eu sei que tenho que fazer, que me mete medo. Não. Nada disso. Esses problemas que eu carrego já estão definidos, com forma própria, eu já tenho consciência da sua existência, e sei, ou tenho tempo de descobrir a solução para resolver a questão.
Mas então, se não é o certo que me deixa neste estado, será o que? Creio que só pode ser o incerto. Faz bastante sentido. Para que preocupar com aquilo que eu já sei. Em relação a isso já não existe muito que possa ser feito. Eu ando a perder sono com aquilo que ainda está para vir. Isso sim é motivo para andar preocupado. Pelo simples facto de não saber aquilo que está a caminho, e por não saber se vou ter a força necessária para liderar com essas situações.
Qualquer pessoa que diga que tem preocupações na vida deve pensas sobre isso. Será que eu não tenho razão? Uma pessoa afirma que tem problemas para resolver. Mas o simples facto de saber que esses problemas existem já devia ser menos um motivo para preocupar. Não pretendo dizer com isto que não é necessário fazer algo frente a essas situações. Digo antes que o facto de ter noção que esses problemas existem já é meio caminho percorrido para encontrar a solução.
É aquilo que está para vir que deve ser o alvo das nossas preocupações.